05/08/2018

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Monte Real, Agosto de 1938, Domingo Quatro horas num destes comboios portugueses que parecem arcas de Noé. Quatro horas arrumado entre uma canastra de sardinhas e a sua dona, a ouvir o que nunca cudei de ouvir. Quando cheguei ao fim, por fora, era pescador. Por dentro é que fui verificar. Mas não: – Olhei-me bem e, infelizmente, era o mesmo pobre-diabo de sempre, poeta, etc e tal, amarfanhado, mas com ares de Traga-Moiros, quase a pedir desculpa por não ser realmente o homem daquela Maria Cação.

Miguel Torga, “Diário I”, pp. 70-71, 1941, Coimbra.

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