29/06/2015

«PROTESTO»...

São como flores fanadas os fúteis alfarrábios,
estagnados e doentios como a água adormecida,
do senhor dom artista que não quis colar os lábios
contra os seios da vida.

O homem que vende livros na velha padiola
expõe o romance da sua vida nessa espécie de montra
e grita contra os romances onde a vida estiola
em maciezas de lontra.

E em todos os cantos e recantos da rua
gritam contra os versos mornos, versos mansos, versos falsos,
as mulheres bem vestidas que ganham a vida nuas
e os garotos descalços.


Sidónio Muralha, “Antologia da Poesia Portuguesa 1940-1977” vol.I, [Org.] M. Alberta Menéres e E. M. de Melo e Castro, p. 93-4, Moraes Editores, Lisboa, 1979.

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