11/05/2015

Um bom sentido de oportunidade para um poeta é a oportunidade de ser inoportuno!


«"URGENTE É A POESIA" impôs-se como tema, porque é urgente a inspiração, a renovação e a arte, que a rotina - ou o mercado -, nos vai fazendo esquecer ou que, cada vez mais, é urgente contrariar.

A forma encontrada para materializar esse conceito, foi a criação de um laço entre o Design e as livrarias, tornando-as no objeto da intervenção. Ou, por outras palavras, a Poesia do Design serve de mote para a atribuição de montras de livrarias a designers e ateliers nacionais que nelas trabalharam, alguns dos profissionais mais reconhecidos nesta área. Aproveitando esta oportunidade, e no sentido de a potencializar nos seus objetivos, na próxima semana ocorrerá um evento literário ligado à poesia em cada uma das livrarias, consecutivamente nos dias 5, 6, 7 e 8 de Maio,........»
URGENTE!? e Oportunidade!?... Sempre a mesma historieta. Parece que não se aprende nada! Mas mesmo assim repete-se aqui uma LiçOom!

“CARTA AO EGITO

A poesia não necessita de “ser salva” porque o que nós entendemos por poesia não necessita de espécie alguma de salvação. Todo o acto de revolta ou de rebeldia, todo o processo de violentar “a natureza” e de desconhecer o direito e a moral é para nós poesia embora não se plasme, não se fixe, não se possa generalizar – ela aqui está, implícita, a recusa terminante de amarrar o poeta a uma técnica, seja qual for, mesmo a mais actual, a mais oportuna, porque, precisamente, o que o distingue do homem de técnica é um sentido de não oportunidade, de inoportunidade, que lhe advém duma clarividência total e duma insubmissão permanente ante os conceitos, regras e princípios estabelecidos. Com isto não queremos dizer (Deus nos livre!) que o poeta seja um louco, um visionário, mas que, se ele tem de possuir uma estética e uma moral é sem sombra de dúvida, uma estética e uma moral próprias.
A poesia é um meio de conhecimento e acção de cujos frutos, bons ou maus, só o poeta aproveita (facto, este, de que muito poucos se dão conta) e daí a inutilidade dos esforços para ligá-lo a qualquer filosofia, política ou teologia, inutilidade que se não desmente no caso de ser o próprio poeta a tentar essa aproximação. É (foi) o caso de Régio como o de Mayakovsky: a sua voz continuará estranha e o sentido das suas palavras incompreensível mesmo para aqueles que escolheu como amigos ou correligionários. É que o poeta é rebelde sem premeditação, demolidor de tudo e de si próprio, esforçadamente anti-caridade-encostada-às-esquinas-de-pistola-em-punho ou caneta-na-mão-lágrima-de-jacaré.
Daí que resultem contraditórios os termos de poeta católico, marxista, surrealista, existencialista, anarquista ou socialista, quando não se desconhece que só ao poeta é dado compreender o poeta. Daí que resultem ridículas as homenagens colarinho-alto ou selecta-de-infância com que é costume, aqui e lá fora, enfaixar o cadáver daqueles como Fernando Pessoa, Rimbaud ou Gomes Leal foram em vida o mais esforçado testemunho contra o bom-senso-não-deites-a-língua-de-fora.

O que possa haver de menos compreensível em tudo isto resulta do facto de que toda a explicação necessita de uma outra explicação para ser compreendida. Aquilo que de um modo imediato é para nós verdadeiro só será inteligível para outrem depois de uma determinada “mastigação” durante cujo processo já todo o objecto em causa adquiriu nova cor, nova forma, novo ou novos sentidos de interpretação. O poeta tem a clarividẽncia desta transformação e daí a sua atitude, sempre de recusa a qualquer espécie de imposição, e ainda quando nos parece que um dos seus gestos adquire uma cor mais conformista, ou um tom menos violento, ele não é mais do que uma forma diferente de recusa.”

Pedro Oom (1949)

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