19/05/2015

SONETO

No Algharb as vinhas são jardins de Hespéria:
Com as vindimas deste fim de Agosto,
Pisada a uva e ao transbordar do mosto,
Abelhas zumbem numa boda aérea.

– Tens sede, meu amor? Toma-lhe o gosto
E, em ditirambo espírito e matéria,
O Sol, há-de cantar-te em cada artéria
E há-de rosar-te a palidez do rosto.

Depois... – não sentes? – o calor aperta,
Que já vai alta a glória da manhã
E eu tenho a boca seca e tão deserta!

Por mim, só quero uns bagos de romã
A ressumar doçuras e entreaberta
Da tua boca, esposa minha irmã...»


Cândido Guerreiro (1871-1954) de “Sulamitis”

op. cit. David Mourão-Ferreira, “O Algarve”, p. 48, Bertrand.

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