20/12/2012

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O Rapto da Europa - Rubens


COMEÇO A PERCEBER…

Começo a perceber. Nestes filmes
pornográficos de Europa não há nada
senão facas e gestos. As mulheres
não mostram mais que as tetas
e os homens nunca tiram as calças
mesmo ao fingir que as montam. Isto
é feito para quem acabe em casa
no doce imaginar da mão que aperta.
Na América vê-se tudo e a sério.
É feito para rapistas cujas mãos
só tocam apertadas os pescoços
das suas vítimas. Na Rússia
não há, é claro, estas coisas podres
do mundo ocidental que deixam
ou tudo ou nada ao doce imaginar.
Lá, as pessoas nem fazem nem pensam
tais coisas, credo. Como em Portugal
Pelas razões opostas nada sobra
de mais valia da cintura para baixo.
As facas (ou canivetes lusitanos)
fizeram previamente o seu ofício
mental, de sacristia.

 Londres, 4/2/73

Jorge de Sena, “40 Anos de Servidão”, 2ªed. rev., Moraes Editores, p.140, LX, 1982.

Outra espécie de Rapto da Europa!... de João Fonte Santa

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